Marcos Rogério nunca foi brilhante, mas sempre soube aproveitar as oportunidades. Quando deputado federal, assumiu a relatória da cassação de Eduardo Cunha, o gângster que recebia propina de todos os lados, mas se colocava como um grande político, e como sabemos, foi cassado, preso e como tem dinheiro, consegue acesso ao que há de melhor quando assunto é defesa. Está em domiciliar. O episódio catapulta o nome do então obscuro deputado rondoniense.
Marcos Rogério foi eleito senador em um grupo capitaneado por Expedito Júnior, candidato derrotado ao governo de Rondônia em 2018, que perdeu a eleição para Marcos Rocha, eleito pela onda bolsonarista que elegeu qualquer coisa com número 17. Expedito, que deveria ter sido candidato ao Senado, e teria certamente vencido, não enxergou o momento que o país atravessava, se deixou levar pelo canto da sereia, e o resultado foi a vitória de Marcos Rogério e o sumiço de Expedito.
Em Rondônia, três grupos disputavam a hegemonia política, mas gradualmente, eles foram encolhendo. O primeiro, e mais antigo, era capitaneado por Valdir Raupp (MDB) que havia sido governador e senador por dois mandatos. Raupp tinha seus pecados, mas as acusações contra ele, feitas pela Força Tarefa de Curitiba, não se sustentam. Faltaram provas, sobraram convicções e Raupp pagou o preço nas urnas. Perdeu a vaga para Confúcio Moura, que traiu seu companheiro de legenda, rachando de vez o MDB em Rondônia e tomou o controle da legenda, que está sob o comando de seu fiel escudeiro, o deputado federal Lúcio Mosquini.
O segundo grupo é comandado pelo ex-senador Ivo Cassol, que conseguiu eleger a irmã Jaqueline como deputada federal, mas ela está a milhas de ter o mesmo carisma e força de seu irmão. Apagada na Câmara, a deputada se limita a votar com o governo e pegar carona nos assuntos do momento. Ivo está em uma situação complicada perante à justiça por conta de uma condenação pelo Supremo de uma obra feita em Rolim de Moura quando foi prefeito. A história, conhecida por praticamente todos em Rondônia, diz respeito a obras de saneamento feitas, mas o MPF acusou Ivo de ter ‘direcionado’ a licitação. O bom senso mostra que uma cidade pequena como Rolim, não tem tantas empresas capazes de executar obras de porte médio e grande. A defesa de Cassol mostrou que as obras foram feitas, com valores a menor e não houve dolo. Mas a Corte suprema é também uma corte política, e a depender do momento que o processo cai por lá, o resultado muda conforme os interesses de ocasião.
Ivo tem muitos pecados, mas foi condenado exatamente onde ele menos errou. E a situação dele, coloca em risco a sobrevivência política de seu grupo. Ficar sem mandato enfraquece qualquer liderança. Apesar de aparecer bem em pesquisas eleitorais, Cassol sabe ser difícil convencer o eleitor quando existem pendências judiciais.
Com esse cenário, restava o grupo de Expedito Júnior, que tem além de Marcos Rogério, o prefeito de Porto Velho Hildon Chaves (PSDB). Ex-promotor de justiça, Chaves foi eleito ainda na pré-onda bolsonarista em 2016 que tomaria conta da política, e reeleito em 2020 por falta de nomes. Nas eleições de 2016, ele se vendeu como um paladino que resolveria os problemas de Porto Velho com poesias e prisões de corruptos. Parou com os poemas, mas prisões ainda devem ocorrer. E não demora.
E o grupo de Expedito também rachou. Já vinha definhando por conta de conflitos em interesses pessoais, e o envolvimento de um assessor de Marcos Rogério com tráfico de drogas, é mais um problema a ser administrado pelo grupo. Marcelo Guimarães Cortez Leite, que está sendo procurado, foi assessor de Expedito Júnior no Senado, e segundo informações de pessoas próximas, teria sido acomodado no gabinete de Marcos Rogério a pedido de outro Expedito, o Netto, deputado federal e filho de Expedito Júnior.
Marcelo Leite é bem relacionado, atuou como segurança de várias autoridades, sendo casado com uma promotora de Justiça, com quem tem dois filhos. Estava sempre acomodado em cargos públicos de baixo escalão, como na Assembleia Legislativa e Senado.
E ele foi atingido pelo furacão da Operação Alcance, e provocou um estrago sem precedentes na imagem de Marcos Rogério. Apesar de, até onde se sabe, o senador não ter nenhuma culpa neste cartório, o imaginário popular atua diferente, e a classe política é sempre mal vista. O senador vai ter que usar muito a palavra que mais gosta, “narrativa”, para tentar explicar como ele, que se diz tão atento, nunca desconfiou de seu ex-assessor; atentai Brasil.
As tumultuadas eleições que ocorrerão em 2022, devem servir de termômetro para os próximos 20 anos na política brasileira. Enquanto a imprensa se debate tentando arrumar uma ‘terceira via’, para evitar a até agora inevitável vitória de Lula sobre Bolsonaro no cenário nacional, em Rondônia a situação é um pouco mais complexa. Grande parte da população ainda pensa que o presidente é bom, mas o governador é pessimamente avaliado. O grupo de Expedito deve tentar uma dobradinha inversa, colocando Marcos Rogério para disputar o governo e Expedito ao Senado. Os adversários conhecem bem o teto de votos de Expedito, e a disputa não será fácil. O envolvimento do ex-assessor com tráfico não ajuda em nada as pretensões do grupo.
O grande risco em 2022 é o eleitor optar por vias alternativas, repetindo 2018. E se isso acontecer, será o fim do último grupo político antigo de Rondônia.
Blog do Painel – Por Alan Alex